A existência sorria-lhe bênçãos e nenhuma outra preocupação o afligia. Oportunamente passou pela sua vivenda um homem religioso, que viajava convidando as almas à reflexão e à fé.
Pediu-lhe hospedagem e foi recebido com carinho.Após o jantar, na primeira noite da sua estada, o visitante indagou-lhe:
– És feliz, homem? Observo que sorris e desfrutas de algumas regalias da vida. Gostaria de saber se possuis diamantes ou pedras outras preciosas, que são as bases da felicidade.
– És feliz, homem? Observo que sorris e desfrutas de algumas regalias da vida. Gostaria de saber se possuis diamantes ou pedras outras preciosas, que são as bases da felicidade.
O anfitrião, algo surpreendido, respondeu-lhe:– Em realidade, sinto-me muito feliz. Tenho uma família saudável, que amo e pela qual sou amado, desfrutamos todos de saúde e confiamos em Deus. Sou negociante próspero, mas não ambicioso, dispondo do necessário para prover o lar de tudo quanto se faz indispensável. Mas tenho joias, nem mesmo quaisquer outras pedras preciosas. Apesar disso, sim, sou feliz.
– Lamento decepcionar-te – redarguiu o viajante. – Se não possuis diamantes, talvez jamais os hajas visto, não sabes o que é a felicidade, tampouco és realmente feliz.Passando a outros temas, logo depois, recolheram-se ao leito.
O homem, que se sentia feliz, começou a pensar na informação que recebera, e pôs-se a ponderar a respeito do valor dos diamantes. Passou uma noite maldormida.
No dia seguinte, o hóspede foi-se adiante e, ao despedir--se, insistiu, sugerindo:
– Pensa nos diamantes, conforme te falei.
A partir dali, o homem tranquilo passou a cobiçar diamantes. Procurou conhecer alguns e perdeu a paz.Resolveu, por fim, vender a propriedade, deixou uma grande parte do dinheiro com um cunhado, a quem confiou a família, enquanto seguiu em longa viagem na busca de diamantes.
Vadeou rios, atravessou florestas, visitou montanhas e vales, venceu desertos, buscando sempre diamantes, sem jamais os conseguir.
Passaram-se os anos, ele envelheceu procurando diamantes, a enfermidade o vitimou, e a morte arrebatou-o, sem que houvesse alcançado a felicidade através das pedras famosas.
Sua família, que houvera perdido o contato com ele, dispersou-se e sofreu amargamente o abandono, a miséria, a separação...
Aquele que lhe houvera comprado a propriedade vivia feliz e era generoso para com todos.
Mais de um decênio transcorrido, o religioso viajante retornou à propriedade e procurou informar-se a respeito do antigo generoso anfitrião. Foi informado de que já não residia ali, de que houvera vendido a casa e as terras, sem que se soubesse do destino que elegera.
Convidado a pernoitar, na mesma residência, após o jantar, enquanto conversava com o senhor que o hospedava, observou sobre a lareira algumas pedras que brilhavam ao crepitar das labaredas. Levantou-se, segurou algumas delas, aproximou-as da claridade, e perguntou, emocionado:
– Onde encontraste estas gemas?
– Entre os seixos e outras pedras no riacho – respondeu-lhe o anfitrião, desinteressado. – Os animais pisam-nas, enquanto sorvem a água transparente, e porque me pareceram muito originais, trouxe algumas para decorar a lareira.
– Homem de Deus! – exclamou o religioso, trêmulo, quase a desvairar. – Estas pedras são diamantes. Amanhã, muito cedo, leva-me ao córrego...... E passou uma noite inquieta, aflito.
Pela alva, seguiu com o proprietário na direção do regato, e, quando lá chegaram, o religioso, com olhar de lince, constatou que as águas transparentes deslizavam sobre um leito de diamantes brutos, negros, brancos e amarelos desprestigiados entre calhaus sem valor.
Desse modo, descobriu-se uma das maiores minas de diamantes do mundo, de onde saíram pedras fabulosas, algumas denominadas como Príncipe Orloff, Ko-i-Nooretc., que dormem em museus famosos do mundo ou brilham nas coroas de muitos reis.
O homem, que era feliz sem conhecer diamantes, deixou-os no quintal da residência para ir procurá-los, mundo afora, sem nunca os encontrar...
AUTOR: JOANNA DE ÂNGELIS, retirado do livro GARIMPO DE AMOR.
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