sexta-feira, 23 de outubro de 2015

VALE DOS SUICIDAS

"...Mas na caverna onde padeci o martírio que me surpreendeu além do túmulo, nada disso havia!

Aqui, era a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que ideia alguma tranquilizadora vem orvalhar de esperança! 

Não há céu, não há luz, não há sol, não há perfume, não há tréguas!

O que há é o choro convulso e inconsolável dos condenados que nunca se harmonizam!

O assombroso “ranger de dentes” da advertência prudente e sábia do Mestre de Nazaré!

A blasfêmia acintosa do réprobo a se acusar a cada novo rebate da mente flagelada pelas recordações penosas! A loucura inalterável de consciências contundidas pelo vergastar infame dos remorsos! 

O que há é a raiva envenenada daquele que já não pode chorar, porque ficou exausto sob o excesso das lágrimas! O que há é o desaponto, a surpresa aterradora daquele que se sente vivo a despeito de se haver arrojado na morte! É a revolta, a praga, 

o insulto, o ulular de corações que o percurtir monstruoso da expiação transformou em feras! 

O que há é a consciência conflagrada, a mente revolucionada, as faculdades espirituais envolvidas nas trevas oriundas de si mesma! 

O que há é o “ranger de dentes nas trevas exteriores” de um presídio criado pelo crime, votado ao martírio e consagrado à emenda! 

É o inferno na mais hedionda e dramática exposição, porque, além do mais, existem cenas repulsivas de animalidade, práticas objetas dos mais sórdidos instintos, as quais eu me pejaria de revelar aos meus irmãos, os homens!"

AUTOR: Ivone do Amaral Pereira

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